terça-feira, 28 de março de 2017

epopeia de atrasos

meandros
Palavra que aprendi com meu pai, quem viu mais rios e pedras que eu
o todo, pesado, os minérios e das distâncias
dos uniformes sem cor viva, das areias mistas
porque mulher deve ter mais rugas de sorrisos que os homens
ruas que continuam o caminho sem fim das pequenas ondas ao cair da gota no rio
seguem como o ciclo do curso ao desrespeitar as areias
e ampliar a margem, diminuindo o generoso dar-se

porque me intitulei também de ausências, fazendo hora como o início do livro de Vigna, adoecendo mães e irmãs
ou lendo incessantemente imagens ou letras até surgirem as dores no meu centro vital e surgir também uma labirintite quando leio de lado

mas eu queria falar mesmo sobre os meandros de um rio que conheço, 
essas curvas centrífugas, os meandros divagantes
só saber disso já bastava para a poesia,
mas eu faço hora,
então não basta
enrolo-me e sou assim arremessada na correnteza
com nós nos músculos tensos das costas e do antebraço

[me lembra o verso que estava pronto e esqueci
lê um poeta pobre]

divagante eu seja depois do seridó, me disseram
o horror
pior lugar depois ciudad del este
e do congestionamento na ponte da amizade
onde os minutos passam em dobro, onde o dinheiro não serve, onde os rios estão secos

finda-se
só restando as lembranças dos meandros
junto a um pouco de lama e
algum abandono

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