quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

caderneta

os cadernos
das senhorinhas
modernas

os cadernos
com suas linhas
retas

os rolos, bolos

todos cadernos
velhos

cadernos são
capelas
de confissão

haicai

violar o som
corre a descer as escadas
violar é som

duas luas

banco de pedra
no vão do tempo
o tempo é lua
passagem de lua

planta nos dedos
e mão de terra
que trema terra
e tema fim

sulcos as marcas
da face corada
que corta trocas
também as almas

domingo, 24 de fevereiro de 2013

queda mucho por sentir

relatos nos muros
e sons que inspiram
inspiram olhos coloridos
sal, areia, céu
inspiram lua cheia
pôr-do-sol
contatos distantes
corações que não dão pé

"queda mucho por sentir"

ainda há
celeuma, cantoria
alarido, cabeça dolorida
visto que há
há de vir
os escritos sobre ventania
sobre o abstrato
sobre os objetos

ainda há muito o que sentir

mas quanto ao ofício
de quem se escreve
que se infle de objetos
inanimados
de teorias
de observações externas
fora do eu, de mim
longe do humano sentir

Crônica da louca mulher

Batia-se na esquina daquela rua movimentada. Já havia bebido cerveja, vinho e outras coisas que não faço ideia. Água do mar, talvez, também. Há momentos da vida de uma mulher que pouca gente sabe. Há momentos obscuros. Assim como, algumas vezes, preferimos homens a couve-flores, como diria Mrs. Dalloway. É aí onde mora o perigo. 

Eu a vi, descabelada, suja. Poderia ser confundida facilmente como uma moça de vida fácil. Acho qualquer outro termo pejorativo. Eufemismo é uma ótima arma para textos +18. Ou uma péssima, pois veja que não me estranharia uma série de interpretações românticas do caso. Bem, voltando. Era Acácia o seu nome e o nome daquela árvore de pequenas folhas.

Assim era com Acácia. Ela enlouquecera. Devagar, de folha em folha. No auge dos seus 18 anos. Acácia começou a se despir no meio do tráfego. Não, na margem. A marginal. Escorria entre suas pernas, entre seus olhos, pelo busto e pelo umbigo e continuava este fluxo. Escorria algo de insensatez. Algo de resto de um telefonema maldito. De uma mensagem instantânea. Acho que escorria por Acácia um alvo chá de descarte. De abandono. Acácia também, ainda, conseguia debochar de si mesma. Ali, entre o asfalto. 

Mas Acácia não desistiu. Postas as roupas no ombro direito partiu. Andarilha, como sempre, foi até a casa de um couve-flor. Óbvio que não o era, mas com semelhança assombrosa. Não era o porteiro que iria impedir Acácia. E não foi. O elevador também não. O eco do corredor ao toque desesperado da campainha muito menos. O objeto há muito estimado aparece.

- Morena?

Com ares de desentendido.

Ele ficou no chão.
Ela, sobre ele.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Eldorado

O esplendor
que me consente,

após a seca
de gozo

após o absurdo
do grito

após a explosão
do choro,

eis:
o silêncio maculado
a canção sorridente
a dor latente
o amor ausente.


O eldorado
quimeras em mente

o amor
de volta
atordoado

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Cartola - As rosas não falam


Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão,
Enfim
Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim
Queixo-me às rosas,
Mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai
Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Haicai

Mãe da minha terra
Sou aqui modéstia raíz
Singular de força
Pode ser do silêncio
que silencio
Então do grito

E pode ser que
a bebida me responda
que não
me arrependa

Eu não me arrependo
pois eis-me a dar
e dou
as duas faces
arrumadas, coradas,
à tapa